Os objetos de uma casa, escritório ou espaço público têm um perfil funcional que é acrescido de um valor ornamental definido por padrões de apreciação específicos do grupo que está a observá-lo. Quando a função de tais artefatos deixa de ser apenas utilitária, e a ela se somam finalidades de natureza simbólica, entre as quais fazer despertar êxtase pela apreciação da graça de sua forma, aí se está a falar de arte decorativa. Os móveis ocupam uma curiosa posição entre os artefatos criados pelo homem. Pode-se afirmar sem exagero, que mais do que a pintura, a escultura e mesmo a arquitetura eles nos revelam o espírito de uma época. A interrelação dos diversos elementos que compõe um interior a cada época, dá-nos a visão de um museu vivo da alma daqueles que o habitam. Cada móvel de per si é um molde da forma humana, cheio de significações mágicas ou simbólicas, guardando, vez por outra, vestígios de rituais primitivos. É gratificante saudar esta nova edição do Dicionário de artes decorativas & decoração de interiores, o primeiro no gênero editado no Brasil. As autoras respondem ao interesse crescente de um público que abrange não apenas curiosos e amadores, mas também estudiosos, técnicos e profissionais que lidam com mobiliário e outros objetos como manifestações da arte em todas as épocas. Através das informações deste Dicionário, podemos estabelecer uma síntese dos diversos elementos que compõem a história das artes decorativas, a partir dos objetos, tomados quase como seres, permanentes testemunhos do gesto e do tempo do homem.
Este dicionário oferece 1.755 verbetes (74 enciclopédicos) e 716 ilustrações (fotos em cores) dando destaque aos assuntos essenciais, como mobiliário, cerâmica, vidro, tapetes, etc. Este plano lexicográfico deu aos verbetes feição enciclopédica cabível em diversos ramos de atividade. O leitor encontra também informações sobre algumas personalidades relevantes e, ainda, detalhes das artes decorativas no Brasil e em Portugal, dada a influência deste país no período colonial.
E, por fim, eis a razão pela qual se optou por iniciar quase todos os verbetes com uma definição clara, quase óbvia, quer se trate de objetos, quer de materiais, quer de estilos: um arquiteto e decorador induziu a tal tratamento argumentando que ?na hora de se redigir uma proposta, nunca é demais recorrer a maior precisão dos termos para se alcançar a maior clareza quanto aos objetos?.
A consulta do dicionário será atraente para aqueles que, por curiosidade ou interesse, queiram se sentir à vontade ao ter em mãos um sofisticado catálogo de leilão, ao folhear uma revista como Architectural Digestou Connaissance des Arts, ao encontrar em viagens inúmeros objetos, antigos ou modernos, referidos em nosso texto ou apresentados em nossas ilustrações. Também aos que se dedicam ao jornalismo, à propaganda, às artes cênicas, às ciências sociais, ali encontrarão esclarecimentos, sugestões ou pistas capazes de enriquecer um trabalho.