O livro ilustrado Eu nem ligo, de Márcia Leite e Jean-Claude Alphen, aborda, com sensibilidade, mas sem disfarces ou meias palavras, a difícil passagem que toda criança enfrenta ao se deparar com um novo papel na vida familiar: tornar-se irmão ou irmã de alguém. Um livro delicado sobre a descoberta das sensações genuínas que afetam o crescer, como o ciúmes, a solidão, a frustração e a aceitação.
Realidade, fantasia, brincadeiras e jogo simbólico se misturam durante toda a sequência narrativa no livro EU NEM LIGO. Ao brincar de mamãe, ao acordar o irmãozinho, ao machucar seu ursinho de brinquedo, ao permitir que seus sentimentos contraditórios tenham consequências reais, a menina tem a possibilidade de viver ludicamente aquilo que ainda não consegue nomear: por que tudo ficou tão diferente depois que esse bebê chegou?
O texto verbal a voz interna da personagem - procura se aproximar do pensamento infantil, em primeira pessoa, por meio de uma linguagem simples, direta e dialogal: a menina está o todo tempo conversando sozinha ou com alguém. Falando pela personagem e não sobre o que ela está fazendo, sentindo ou pensando, o texto não se compromete em explicar ou facilitar a compreensão do leitor a partir de algum julgamento binário de certo ou errado, deixando ao leitor a liberdade de interpretar de acordo com suas possibilidades.