Para Lygia Bojunga: uma carta de amor e de reflexão para aquela que é uma das principais escritoras brasileiras
Livro passa em revista a obra da autora de A bolsa amarela, enquanto reflete sobre o próprio ato de escrita e a construção do mercado literário no Brasil
Gaúcha de Pelotas, autora de 23 livros, Lygia Bojunga é não apenas uma das mais prestigiadas escritoras brasileiras vivas. É, também, reconhecida como uma das mais importantes autoras do universo infantojuvenil, em todo o planeta. Não à toa, foi a primeira pessoa fora do eixo Europa-Estados Unidos a ganhar o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura para crianças e jovens. Conquistou, também, o prêmio Astrid Lindgren 2004, criado pelo governo da Suécia para promover a literatura infantil, além de inúmeras outras láureas, mundo afora.
Em 2022, Lygia Bojunga completa 90 anos de vida, e 50 de carreira literária, cujo marco inicial foi a publicação de Os colegas em 1972. E ainda outros aniversários neste ano: 20 anos da Editora Casa Lygia Bojunga; 20 anos de Retratos de Carolina; 30 anos de Paisagem; 40 anos de atribuição do Prêmio Hans Christian Andersen.
Sua estreia com Os colegas, já foi repleta de brilho: os manuscritos vieram a lume, pela Editora Sabiá, após conquistar o prêmio do Instituto Nacional do Livro, no ano anterior. Mas talvez o maior reconhecimento pela obra de Lygia não esteja nos prêmios, e sim na forma como seus personagens e narrativas têm habitado o imaginário afetivo de diferentes gerações. Quem aí não carrega consigo uma bolsa amarela, afinal?
E é partindo justamente desse lugar, o de uma autora decisiva para a formação de leitores apaixonados, que emerge a Lygia Bojunga deste novo livro de Ana Letícia Leal. Um livro, porém, que vai se desdobrando em múltiplas dimensões, para desvelar não só uma Lygia Bojunga multifacetada, como também para refletir sobre as tantas e tantas faces do ato da escrita, em seu permanente e transformador contato com a vida.
Autora também premiada, Ana Letícia Leal escreve sobre e para Lygia. Grande parte da narrativa, afinal, dirige-se diretamente à própria escritora. Misturando gênero epistolar, ensaio biográfico, autoficção e reflexão acadêmica, Para Lygia Bojunga, a mulher que mora nos livros é uma obra singular. Resultado da pesquisa de doutorado de Ana Letícia, não tem nada, porém, da sisudez dos trabalhos científicos.
Por outro lado, usa a trajetória de Lygia como fio para traçar uma reflexão sobre a própria construção do mercado de literatura infantojuvenil no Brasil. A partir da leitura comentada de cada volume publicado por Bojunga, emergem temas do universo literário, como o fomento governamental, o aspecto gráfico das edições, a formação do leitor, a especificidade da leitura literária e a entrada do novo escritor no mercado editorial.
Dessa forma, a crítica literária faz-se combinada com a narrativa biográfica de uma Lygia construída pela leitura de Ana Letícia. Uma terceira camada é autobiográfica, tratando da história da leitora, que, em criança, leu Os colegas e cresceu junto com a obra completa, pois, a partir de 1988, Lygia publica também para adultos. Mais ainda, costura-se do primeiro ao último capítulo a história da própria escritura de Ana. Uma história que vai revelando a complexidade, as dores e as delícias de quem não apenas se dedica à arte da escrita, como faz isso imerso nos desafios de seu tempo e país. Como Lygia, como Ana