Sequência de O Meu Pé de Laranja Lima, este romance é igualmente autobiográfico. Na década de 1930, o menino Zezé, com dez anos, vive com os pais adotivos em Natal, Rio Grande do Norte, e estuda num colégio católico. O menino fantasia a existência de um sapo-cururu com o qual dialoga e desabafa e cria a imagem ideal de um pai, superposta à imagem cinematográfica do ator Maurice Chevalier, com quem conversa em sonhos e por quem se sente amado como um filho. Zezé, o personagem principal de O Meu Pé de Laranja Lima, mora agora em Natal, RN, com a família de seu padrinho, um médico. Ele não é mais submetido às surras, como no romance anterior nem passa as necessidades que a vida com sua família de origem lhe impunha. Estuda em boa escola e, aos poucos, progride intelectual e fisicamente. Mas é um menino triste. Talvez, um dos meninos mais tristes do mundo. Porque a dor das perdas que sofreu pesa demais nele.
Vamos aquecer o sol, lançado em 1974, retrata Zezé com um pouco mais de idade, mas, também é o livro que fecha a trilogia biográfica de José Mauro. No último capítulo, o autor, mais de vinte anos depois, já adulto e mais vivido, perambula pela cidade de São Paulo. A nostalgia o acompanha. O diálogo com a imaginação como tática de sobrevivência, também. E ainda a nomeação das perdas, que o José-Mauro-Literário, o personagem, agora parece não encarar mais como castigo por suas falhas. Ele finalmente, e com serenidade, se despede do sapo-cururu, de Monsieur Chevalier, do Irmão Fayole. Na verdade, despede-se de Zezé. Assim como os demais amigos, também o menino de O Meu Pé de Laranja Lima e Vamos Aquecer o Sol toma o rumo da Pátria da Saudade.